Que se abram as garrafas e se acendam as velas!

A Umbanda é uma religião rica em trabalhos espirituais. Nós encontramos as manifestações destes trabalhos em quase tudo que se realiza na religião e quando se trata exatamente disto, trabalhos espirituais na Umbanda, boa parte envolvem a utilização de materiais os mais diversos. É sobre a utilização destes materiais que eu gostaria de chamar a atenção do amigo leitor.

Diante da minha experiência, em quase três décadas como umbandista, já me preocupei em entender esta relação trabalhos espirituais versus material utilizado e eis algumas das minhas conclusões:

a) A Umbanda é uma religião que busca abarcar o maior número de consciências.
b) Para isso ela tem que ser uma religião abrangente e não voltada para um seleto grupo, ou esperar que as pessoas tenham uma determinada condição para dela fazerem parte.
c) Desta forma ela não é discriminatória, nem em relação a sexo e/ou opção sexual, raça, classe social e faixa etária (idade).
d) Eis o motivo principal da Umbanda não ser uma religião codificada. A Umbanda trabalha com a subjetividade da consciência humana, ou seja, o que existe na mente; que pertence ao sujeito pensante e a seu íntimo, logo ela tem a visão de cada pessoa como ela é de fato, única (não existem dois seres humanos iguais).
e) Todo ser humano se relaciona com o invisível, criando referências objetivas, por exemplo, ao se pensar em Deus, imediatamente se cria uma imagem para representá-lo. Fica mais fácil de se relacionar com algo que possa ser captado de forma objetiva por um, mais de um, ou todos os nossos sentidos. Para isso a mente realiza correlações e inter-relacionamentos do que conhecemos, com o que queremos conhecer ou se relacionar. A nossa relação com o Sagrado se dá desta maneira. Cada consciência pode fazer isto de forma diferente, embora sempre existam determinados padrões e semelhança de situações, a Umbanda procura, para cada mente, oferecer referências adequadas e estimular processos que facilitem este contato transcendente.
f) Assim, encontramos diversos tipos de liturgias e ritualísticas (um terreiro nunca é totalmente igual ao outro), as manifestações de uma determinada entidade em diferentes médiuns variam, pois as mentes dos médiuns e sua mediunidade são diferentes etc.
g) Posto isto, os elementos ritualísticos existem, para servir de apoio para a formação de todo um processo, que ajude aos que frequentam um terreiro, realizar este encontro com o invisível, o Divino e o Sagrado. As imagens, o altar, a decoração do ambiente, o fardamento dos médiuns, as guias e colares, a defumação com incenso, as velas acesas e demais objetos ou elementos utilizados em nossa religiosidade cumprem este papel de acessar os nossos sentidos e construir uma ponte entre a nossa consciência e o mundo espiritual.

No caso dos trabalhos espirituais, os materiais além de realizarem o que acima foi descrito, servem de elementos de manipulação magística, de coesão e expulsação de forças, de catalisadores (aceleradores) na criação de algo que se deseje ou almeje com o trabalho, de fixadores ou imantadores para a invocação (pedido, chamado de auxílio ou socorro espiritual) e para evocação (atração de forças espirituais ou espirítos específicos). Enfim, a utilização dos mais diversos tipos de materiais geram a condição coletiva (caso esteja participando mais de uma pessoa) ou individual necessária para que se visualize algo concreto, para poder então se construir o elo, a ponte, o portal com o mundo invísivel e espiritual.

Sendo assim, todo o material exigido para um determinado trabalho deve ser usado. Todo elemento entregue para ofertar a uma entidade deve ser utilizado. Qualquer objeto que for solicitado por uma entidade ao seu consulente deve ser totalmente empregado no objetivo da consulta.

Como utilizar bebidas (cachaça/aguardente etc.) em um determinado trabalho e não se abrir as garrafas, para derramar, ou despejar em recipientes? Para que solicitar velas que jamais serão acesas e outros tipos de materiais que não são usados completamente? Para que sobrar alguma coisa em um trabalho espiritual?

Para esclarecer melhor... Se você vai a um terreiro, se consulta com uma entidade que lhe solicita uma vela, esta deve ser acendida e não simplesmente entregue apagada e pronto. Qual é o sentido? Ficar com a vela ofertada com a intenção de vender para o próximo consulente? Me poupem, mas isto já é esperteza e se irmos mais profundo, artigo do código penal.
Os consulentes de terreiros merecem o devido respeito e a total consideração!

Se o objetivo é arrecadar dinheiro existem outras maneiras de se fazer isto, para fins claros e específicos, sem precisar ludibriar e menosprezar a fé alheia.
A Umbanda é uma religião ÉTICA!
O mundo espiritual é RESPONSÁVEL e CORRETO em suas orientações e recomendações de trabalhos!
A doutrina da Umbanda prega a EVOLUÇÃO ESPIRITUAL, procurando para isso TRANSFORMAR CONSCIÊNCIAS, ensinando a prática do BEM, do AMOR e da CARIDADE!

Por isso amigo leitor, em casas que não se abrem as garrafas e nem se acendem as velas ofertadas, muito cuidado!!! Talvez você tenha batido em porta errada e não em um terreiro de Umbanda.

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