A Umbanda não é Catolicismo, nem Espiritismo!

Sempre digo que a Umbanda é uma religião que tem como objetivo primordial a evolução espiritual de todos os cidadãos planetários, ensinando a prática do bem do amor e da caridade, e proporcionando o desenvolvimento de uma fé racional, crítica e responsável.
A impressão que se tem, ao se olhar o movimento umbandista, diante da verdade deste discurso, a sua prática está muito distante da teoria. Escutamos muitas vezes, os próprios adeptos reclamarem de situações que contradizem este objetivo, contar histórias que vão de encontro aos ensinamentos pregados e relatar fatos vexatórios (que causam vexame). Por outro lado, existem algumas situações litúrgicas (elementos e práticas do culto religioso), ritualistas (conjunto de ritos da religião) e de posições doutrinárias, que ajudam a distanciar ainda mais o discurso da prática.
Um dos pontos chaves que podemos citar, apenas para ficar no exemplo, é o sincretismo religioso (fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com reinterpretação de seus elementos), que a Umbanda desde o início de sua história oficial vivencia. É indubitável a presença marcante na Umbanda de elementos litúrgicos, ritualistas e doutrinários de outras religiões, oriundos principalmente do Catolicismo e do Espiritismo.
As preces católicas (Pai-Nosso, Ave-Maria, Salve-Rainha e o Credo) servem comumente de abertura e encerramento para as giras umbandistas.
Não existe nada mais absurdo, que em um terreiro de Umbanda se reze, por exemplo a segunda parte do Credo. Como umbandistas podem realizar uma afirmação de crença na Santa Igreja Católica, acreditar na remissão dos pecados e pior ainda, na ressureição da carne?
Por que fazer o sinal da cruz todas as vezes que se passa na frente de uma igreja católica?
Por que um umbandista deve batizar sempre seus filhos, já presenciei defesas ferranhas desta causa, na Igreja Católica, com intuito de se evitar que as crianças se tornem pagãs para o resto de suas vidas?
Qual é o sentido de um filho-de-fé da Umbanda frequentar uma Igreja Católica, ser devoto de um santo católico, participar de novenas, rezar terços, realizar a via-sacra, pagar penitências, acompanhar procissões, realizar, no caso da morte de umbandistas, missa de corpo presente, missa de sétimo dia e utilizar nos trabalhos espirituais, água benzida por padres da igreja, recitar ladainhas e outras tantas coisas mais?
Já ouvi afirmações do tipo: "todo umbandista é católico". Com argumentos desta natureza é melhor pegar o banquinho do preto-velho, a guia do caboclo e o chapéu do mestre e ir para casa.
Por que nossa visão de mundo espiritual e de doutrina tem que ser a mesma do Espiritismo?
Por que a nossa literatura principal e a mais recomendada é os livros da codificação de Allan Kardec?
Por que nossos terreiros tem que ser centros espíritas e muitas de nossas uniões, associações e federações se denominam espíritas de Umbanda?
Tá, podem dizer alguns, que eu estou generalizando, mas nestes casos específicos, os que não se enquadram no descrito acima são realmente exceções.
Basta perguntarmos, claramente, qual é a nossa religião?
A resposta é Católica? Não! A resposta é Espiritismo? Não, embora que alguns, movidos pela vergonha de se dizerem umbandistas, respondam que são espíritas.
A resposta correta é Umbanda!
A Umbanda, então, é uma mistura de religiões?
É uma religião com crise de identidade?
A resposta continua sendo não e não!
A Umbanda é uma religião plenamente constituída, com doutrina própria, com ritos e liturgias especifícos e originais.
Olha, até compreendo a importância do papel que o sincretismo religioso teve no início e durante boa parte da formação e estruturação da Umbanda. Compreendo até o fato que este sincretismo tenha sobrevivido por tanto tempo. O que não não consigo entender é o por que ele hoje não é a exceção no lugar de ser a regra. Tanto é regra, que vemos umbandistas realizando defesas para perpetuar a sua existência, aprovando o seu uso e adotando tais práticas e costumes como se fossem as coisas mais naturais do mundo.
Volto com a pergunta somos umbandistas, católicos ou espíritas?
O engraçado é que se insiste em ser sincrético, com religiões que nos excluem e pregam uma visão desvirtuada, reducionista e totalmente contrária a nossa. Coisa do demônio e baixo espiritismo é o mínimo, para ficarmos no exemplo. O que deve parecer a estes, é que a Umbanda insiste neste sincretismo para se validar como religião.Temo que eles estejam corretos! Sinceramente, não vejo nenhuma atitude coletiva e espírito de grupo, consciente para tentar mudar esta situação.
Vozes isoladas surgem, mas são tratadas como elitistas, codificadoras, mudancistas e revolucionárias, portanto rechaçadas, excluídas, denegridas e finalmente caladas.
Não se trata de elitizar ou codificar a Umbanda e sim de mostrar ao mundo a originalidade de sua essência, que não necessita de cascas, máscaras, véus, nuvens de mistério e erôs.
A Umbanda jamais será elitista, pois é uma religião planetária e codificada ela já é, pois sua essência possui um padrão único e definido de existência, doutrina, ritos e liturgia.
Somos nós que agregamos e superpomos a esta codificação natural, visões, conceitos, sincretismos, percepções as mais diversas, de acordo com as nossas necessidades, desejos, vontades, capacidade de entendimento e nível de consciência.
Somos nós que preferimos a comodidade das quatro paredes de nossos terreiros, a manter o estado de coisas que já vivenciamos e nos agarramos as conquistas alcançadas, no âmbito da coletividade que nos rodeia, não desejando de forma alguma, qualquer mudança que altere a vidinha que levamos.
Somos nós que preferimos calar a ter que remar contra a maré da estaticidade (o que insiste em ficar estático, parado) que impera na nossa religião e que impõe a todos a necessidade de se manter os direitos de poder e autoridades conquistados, de se defender castelos doutrinários e atacar qualquer inciativa que modifique estas situações.
Somos nós que classificamos terreiros, colorimos bandas e dividimos a religião em segmentos. E pior, em nome dsta auto-divisão que realizamos, ainda brigamos entre si. Tachamos os outros de terreirinhos e catimbozinhos, enxergamos o simples e humilde como pobreza e atraso, realizamos concorrências inconscientes de quem é o melhor, o mais poderoso, o terreiro mais bonito, os filhos-de-santo mais bem fardados e tantas coisas que a lista não caberia aqui.
Esquecemos, que se somos umbandistas no terreiro, antes de mais nada, somos cidadãos planetários e temos por obrigação procurarmos constantemente colaborar com a evolução da Obra Divina em nosso mundo.
A Corrente Astral Superior de Umbanda permite que tudo isto ocorra, porque eles sabem que não existem saltos na evolução espiritual e sim consciências preparadas para absorver um novo estágio consciencial e galgar um novo degrau na escala evolutiva. A nossa consciência é temporal e finita como alma encarnada, já no mundo espiritual tudo é atemporal e infinito. Estas limitações, no entanto, não são impeditivos para que possamos evoluir e buscar a perfeição.
Pacientemente a Umbanda aguarda, que resolvamos criar um espírito de coletividade evolucionista, que cada vez mais, deixemos de lado o superficial e penetremos a essência, saiamos do concreto e devassemos o subjetivo, deixando de pensar no mundo restrito de nossos terreiros e ampliando a nossa consciência para o planeta.
Precisamos lembrar, 24 horas dos nossos dias, que somos umbandistas, que a nossa religião é a Umbanda, caso contrário, melhor sermos honestos e em vez de perder o nosso precioso tempo em um terreiro, irmos para uma Igreja Católica ou frequentarmos um Centro Espírita.
Definitivamente, a Umbanda nunca foi, é e será Catolicismo ou Espiritismo.

Comentários

Anônimo disse…
Parabéns! O texto é enriquecedor e pontua as indagações de muita gente. Continue escrevendo.
Maria. Niterói, RJ.
Anônimo disse…
Gostaria de saber se a Umbanda não é espiritísmo, o por que de seus seguidores se auto-denominarem ""espíritas".
Caro leitor anônimo, o motivo dos umbandistas se auto-denominarem "espíritas", pode ser divido nos seguintes pontos:
1)alguns terreiros ou uma boa parte se utilizam da doutrina espírita como ensinamentos;
2)a mediunidade e o contato com mundo espiritual é comum;
3)historicamente, foi uma tentativa de aproximação com o Espiritismo;
4) Socialmente é melhor aceito.
De qualquer forma, ou seja o motivo está, no meu ponto de vista totalmente errado essa auto-denominação. Umbandistas são umbandistas, Espíritas são espíritas.
Tchê Guasco disse…
Caro irmão Caio,

Sou Umbandista, frequento regularmente um terreiro e tive notícias que alguns terreiros não trabalham na Quaresma em virtude de este ser um período de uma grande energia negativa. Ouvi também dizer no meu terreiro que é importante trabalhar justamente por causa da energia negativa. Gostaria de saber a sua opinião com relação a energia deste período de Quaresma.
Grande abraço e que seu Pai Omulu te ilumine!
Anônimo disse…
Olá Caio eu gostei muito do texto e concordo com seu conteudo e que se deva procurar buscar uma identidade propria na Umbanda.
E sei que a Umbanda a tem!

Parabéns e Um Grande Abraço Fraternal! Saravá!
Caro Francesco,

Realmente existem muito dessas colocações sobre a negatividade do período da quaresma. E como vc., mesmo coloca muitos preferem não trabalhar e outros acham que sim, nesse período é que devem existir uma maior intensidade de trabalhos.
No meu ponto de vista, bom senso e canja de galinha nunca fez mal a ninguém (rs.). Como a predisposição no período, ao meu ver já cria uma egrégora satisfatória para o negativo, alguns cuidados são necessários, mas apenas pelo clima espiritual criado, infelizmente por nós mesmos.
Afinal vc. a de convir que negativo e positivo, não tem dia, nem hora, nem época e tão pouco período. Já que tudo é apenas uma questão de sintonia e harmonização.
Cada um liga sua tomada aonde achar melhor.
Admnistrador disse…
"O motivo dos umbandistas se auto-denominarem "espíritas", pode ser divido nos seguintes pontos:"

5) No inicio para legalizar uma Tenda de Umbanda era quase impossivel, mas com a denominação "espirita", ou com algum termo Católico era permitido, na época se alguem dissesse que era Umbandistas, com certeza seria preso, ou mesmo teria seus Terreiros invadidos, por policiais, um dos mais ferrenhos contra a Umbanda foi Getulio Vargas, fez muito uso da força policial para impedir o crecimento de nossa Religião.
Anônimo disse…
Prezado Caio.

Meus parabéns pelo texto e pelo excelente trabalho que apresenta neste blog.

Compartilho de diversos pensamentos expostos aqui.

Em tempo gostaria de mostrar-lhe meu site sobre Umbanda para sua apreciação no seguinte endereço: http://www.umbanda.890m.com

Um fraterno abraço.
Sheyla disse…
Salve Caio!
Quanto tempo menino, seu banquinho na sala está chorando de saudades e todos nós também.
Acredito que sim, temos nossa própria Liturgia.
Mas a Umbanda é tão livre, tão aberta que aceita a fé alheia e acolhe sem questionar os irmãos católicos e espíritas.
Muitos se sentem confortáveis e bem recebidos talvez pelas imagens de santos e pelos proprios pontos cantados.
Só creio que devemos educá-los que se pode rezar para o santo, mas ele não é Orixá.
E que se pode rezar para O Orixá também .
Eles não " brigam" como os humanos.
Um abração enorme, Muito Asè,
Fadinha ( Sheyla)
Anônimo disse…
Caro Amigo,ando lendo seus cometário,são de valor. Mais todo Umbandista é Católico,Espirita,Esotérico,abrange outras religiões diversas! Que de alguma forma mexe com as forças da natureza! Um abraço desse Guerreiro!
Unknown disse…
Salve a comunhão universal dos espíritos! Salve a umbanda, o candomblé, o espiritismo, o catolicismo, o induismo, o protestantismo, e todas as manifestações de fé em uma força superior que pode ser chamada de zambi, deus, oxalá, entre outros.
Como umbandista respeito e admiro todas as formas de vida e de culto, e sei que muitos dos espíritos que trabalhamos em nossas linhas atualmente, já praticaram outras religiões quando encarnados, por isso mesmo respeito a todos.
A umbanda é sim única, porém é a representação universal de todas as crenças, na caminhada para um mundo mais unido.
Aprendi com os guias, que a evolução espiritual independe das crenças, e está muito mais ligada a atitudes. Os ignorantes na fé serão encaminhados caso suas atitudes traduzam a bondade e o amor ao próximo que se busca na evolução.
Desta forma, entendo seu desabafo, mas gostaria de dizer que não importa a nomenclatura que se de, o importante é o trabalho que desenvolvemos, ainda que este não seja compreendido por terceiros, teremos feito a nossa parte.
Salve o povo de aruanda!
Axé a todos!!!
Unknown disse…
Para aqueles que se perguntam sobre os trabalhos durante a quaresma, gostaria de deixar a minha visão.
A umbanda trabalha com energias que se consomem ou se dissipam no mundo.
A quaresma, nada mais é do que 40 dias de penitencia, criado pelos católicos para reverenciar o jejum de cristo no deserto antes de sua crucificação, era o momento em que enfermos ou leprosos eram totalmente isolados.
Desta forma com o passar dos anos, a quaresma passou a agregar uma gama de energias diversas dos outros dias, já que milhares de pessoas estão se penitenciando ao mesmo tempo, o que significa dizer que o pensamento dos penitentes atrai para o universo um turbilhão de energias diversas do comum.
Desta forma os aparelhos de umbanda (ou seja os médiuns) precisam de cautela para transitar por tais energias, com as quais não estão habituados, sendo necessário uma maior cautela neste perído.
A imagem que tenho da quaresma, é que por força do pensamento coletivo humano os mundos espiritual e carnal se fundem neste período, ou seja há uma abertura do umbral, e um acesso transitório dos espíritos negativos sob a terra, na tentativa da salvação ou da tentação aos penitentes.
Por isso não podemos encerrar as atividades durante a quaresma, pois é um dos momentos em que os espíritos mais necessitam de nosso auxílio. Mas no entanto é necessária mais cautela e proteção neste período para não nos tornarmos alvo facíl para negatividade alheia.
Que estes 40 dias que se seguem sejam repletos de salvação e evolução a todos aqueles que nos pedirem auxílio, e que nós tenhamos força para não nos deixar abater pelas novas dificuldades.
Salve as almas benditas e os auxiliares da banda!!
Axé a todos!
Unknown disse…
Parabéns, concordo realmente com esse conceito e creio que a verdadeira religião nasceu dentro de nós há milhões de anos, um passado perdido, como a Umbanda, dentro de cada um, mas para encontrá-la é preciso ser como uma criança, puro e verdadeiro, ao invés de disputar terreiros, fardas, numa guerra de egos sem fim.
Ivo disse…
sou católico e ainda vivi um tempo em que, oficialmente a Igreja, ou alguns religiosos mais fanáticos ou ignorantes, perseguiam e mandavam agredir outras religioes, cultos e etc... Felismente hoje, oficialmente a igreja tem como princípio o respeito e o esforço de conhecer todos os outros irmãos. Alguns radicais ignorantes sempre os haverá em todo lugar. Achei importante as colocações do autor. Todos que professam algo tem que tentar esclarecer melhor do que estão falando, dar razões para sua fé. Paz e bem para todos
Anônimo disse…
Voce que postou isso, sinceramente não sei o quew te dizer. Porem digo, sou Catolica. E a resposta para suas indagaçoes para saber qual é a nossa religiao? é simples. A Umbanda e o Candomble na antiguidade "seguiram alguns costumes" da igreja cATOLICA, em pró de manifestar sua religiao. E essa tradiçao foi apenas continuada. Isto é, O Candomble e a Umbanda, sao apenas religioes que seguiram alguns costumes da Cotolica.
carlos eduardo disse…
parabens,adorei sua definiçao sobre umbanda,achei que nunca encontraria alguem com mesmo raciocinio,sou tachado do contra por pensar assim,sou umbandista,moro em curitiba,tenho minhas opinioes a respeito desta misturança e não concordo,onde não consigo um lugar que me sinta em paz,para evoluir espiritualmente,com meus amados e amadas,entidades,muito axé ao senhor,
Lílian Valéria disse…
Saravá, pai Caio de Omulu!
Sempre participo de algumas discussões em meu local de trabalho e ouço pessoas dizendo "Sou espírita" e no sábado seguinte as vejo sentadinhas nos bancos da assistência do nosso terreiro de Umbanda. Tenho ainda um amigo espírita que diz que sou médium e tenho que frequentar a Casa Espírita, mesmo sabendo que sou Umbandista e me orgulho - no bom sentido - de assumir minha fé e minha religião. Linda a maneira como você defende nossa religião. Fiquei feliz e em paz ao ler seu texto. É certo que tenho algumas dúvidas quanto às minhas próprias entidades, mas penso que faz parte de meu desenvolvimento. Só tenho dois anos de Umbanda, mas me sinto em casa quando estou no terreiro. E, quanto ao elitismo que existe dentro dos próprios terreiros, não me incomodo com ele (meu marido é que se irrita) porque sei que não estou ali pelas pessoas que ocupam posições de chefia ou semelhantes. Estou ali para compreender o que dizem as várias vozes que falam aos meus ouvidos, as várias imagens que visualizo acordada, em transe ou em sonhos. Estou ali porque recebi uma incumbência, um carma, ou um talento, não estou certa da nomenclatura, mas que não estou disposta a enterrar.
Se houver maiores esclarecimentos que possam contribuir para o desenvolvimento dos iniciantes, como vibrações, incorporações, diferença entre "o comportamento da entidade e o do médium", por favor, ajude-nos.Tens propriedade, conhecimento, clareza e iluminação para isso.
Boas vibrações!

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