A Umbanda - Fazer e Acontecer!

Uma reflexão e macrovisão do movimento umbandista.

A Umbanda completa, no próximo ano (2008), 100 anos.
O movimento umbandista já se prepara para comemorar este fato histórico.
Estamos chegando ao final da primeira década do séc. XXI, momento propício para realizarmos uma reflexão sobre a religião, avaliando conquistas, analisando o cenário atual, reconhecendo dificuldades e perspectivas para a próxima década. Acredito, sinceramente, que todo umbandista, independente da coletividade em que atue e da forma que se caracterize sua práxis religiosa, em algum momento tenha procurado formatar uma macrovisão da Umbanda. Independente de estar completamente definida, essa macrovisão, possibilita a todos nós um guia seguro que alicerça de racionalidade a nossa fé, estabiliza o nosso dia-a-dia umbandista, edifica a nossa conduta moral e ética religiosa e parametriza a nossa ação individual e coletiva no constructo da Umbanda.
Incontestável o advento do Caboclo das 7 Encruzilhadas e indelével o trabalho realizado pela família Moraes. Desde Zélio em 1908 até os dias atuais, a Umbanda cresceu em número de adeptos e simpatizantes, se expandiu para todo o território nacional, inclusive no exterior e proporcionou as incontáveis pessoas que batem a sua porta a cura para seus males físicos e espirituais, a solução de diversos problemas, a palavra amiga, o alento e a orientação.
Marcada por um renitente sincretismo, envolvida por uma diversidade abrangente, gerando assim uma pluralidade de ritos e liturgias, o que remete a uma percepção errônea de condescendência ou passividade, a Umbanda, com certeza, conduzida pelo mundo espiritual que lhe dá aporte, caminha realizando o plano que lhe cabe dentro da obra divina.
A palavra-chave para entender essa aparente confusão e desmanchar o nó de górdio do entendimento sobre o assunto é CONSCIÊNCIA!
Sim, a Umbanda procura dentro do seu atual ciclo de existência abarcar o maior número de consciências possíveis, permitindo que templos, tendas, terreiros, casas, choupanas sejam pontos de contatos válidos com as consciências que atravessam seus portais, seja qual seja, o motivo que trazem essas pessoas.
Diferentes entre si, plurais e diversas em vivências, valores e conhecimentos essas consciências podem encontrar na Umbanda, sempre pontos de afinidade, simpatia, atratividade e harmonização.
Em outras palavras existe um terreiro adequado para cada tipo de consciência. Embora esse tipo de raciocínio possa levar para uma rápida conclusão, que existe uma Umbanda para cada tipo de umbandista, isto não é a realidade.
O que acontece de fato é que elementos decorrentes do sincretismo, principalmente católico e espírita, funcionam como facilitadores de adaptação e reconhecimento consciencial. Isso não significa a necessidade de se perpetuar esse sincretismo indefinidamente, nem justifica a sua existência no seio da Umbanda.
Sem entrarmos no mérito do por que do sincretismo, o que demandaria quase uma tese a respeito, devemos esclarecer, que circunstâncias proporcionaram a sua gênese e a acomodação social e cultural perpetuaram a sua existência.
Por isso, hoje se fala muito em movimento umbandista, como o conjunto de manifestações da Umbanda. O trabalho filosófico da Alquimia é um símbolo que poderíamos usar como metáfora para fazermos um paralelo com a Umbanda. Segundo consta e de forma genérica, o objetivo dos alquimistas, eram o de encontrar a Pedra Filosofal e para isso, em seus laboratórios eles jogavam dentro de um cadinho (recipiente) os metais e produtos químicos, colocavam o cadinho sob o fogo, iam retirando a borra que se formava e esperavam, que esta depuração ao final, deixassem ao fundo a essência (Pedra Filosofal) que transformaria qualquer coisa em ouro. No nosso caso, o cadinho é o movimento umbandista, o fogo o mundo espiritual trabalhando e depurando o movimento, os metais e produtos químicos dentro do cadinho são o sincretismo, as diversidades e pluralidades e a Pedra Filosofal é a essência ou a Umbanda propriamente dita. O ouro? A evolução espiritual das consciências, do planeta e do Universo.
Nesse prisma a Umbanda não dá saltos e nem fere a evolução natural das consciências, ela permite se adequar aos patamares conscienciais, sem violência e sem corromper o tempo de cada um. Como mãe extremosa que é, aguarda pacientemente o desenvolvimento de seus adeptos e as mudanças que ocorrerão naturalmente em cada ciclo de sua existência, conforme o plano traçado por sua Corrente Astral Superior.
O movimento umbandista vive pois, a diversidade diferenciada das manifestações umbandistas, conectando e podendo sempre harmonizar a todos pelas semelhanças, selo indelével que a Umbanda (essência) imprime em cada um de nós.
Em detrimento da diversidade da forma manifesta na práxis do movimento umbandista, a Umbanda possui uma originalidade presente em seu modus operandi e vivendi, uma essência latente que se desvela de acordo com a clareza espiritual de cada uma de nós e é uma gnose completa em si mesma.
Por outro lado, a interação provocada pela manifestação de nossa coletividade com a sociedade de uma forma em geral, imputa em algumas situações que não deveriam existir mais. Ainda somos tachados de cultura de periferia, subproduto religioso do Espiritismo (ex: baixo-espiritismo), discriminados religiosamente , atacados pejorativamente (ex: feitiçaria, bruxaria, do encosto etc.) e copiados descaradamente por segmentos religiosos, que se valem de nossos ritos, liturgias, conceitos e mesmo objetos para descaracterizarem a Umbanda e nos combater sem trégua. Politicamente ainda somos inexpressivos, culturalmente estudados como seita ou manifestação religiosa fetichista, pela mídia vista como folclore e curiosidade e socialmente segredados. Sempre é bom esclarecer que essas situações possuem claras exceções, mas estamos ainda muito longe de uma situação regular, quanto mais ideal.
A despeito do conjunto de motivos que nos levaram a convivermos com tais discrepâncias (outra tese seria necessária), devemos entender que precisamos possuir um espírito de corpo (união) e fomentar a criação de mecanismos e instituições, que nos coloquem em condições correlatas, para garantirmos a nossa expressividade e participação social, cultural, religiosa, filosófica e científica. Condições estas que já temos de fato, mas não possuímos ainda o reconhecimento de direito. Esse é o desafio principal e há muito emergente em nosso seio.
Por isso identificamos o CONUB - Conselho Nacional de Umbandistas, como uma instituição que representa claramente e é plenamente identificada como aglutinadora do espírito de corpo (união).
Formatada para agrupar representativamente a pluralidade do movimento umbandista, procurando captar as expertises e vivências de todas as diversidades existentes, criando uma capilaridade local, regional e nacional e conectando a todos pela semelhanças de uma macrovisão una e não única, o CONUB tem se destacado pelo seu trabalho de fomentador do debate e da discussão saudável da coletividade umbandista, através de seus seminários, locutórios e participações em eventos, festas religiosas e congressos, promovendo o diálogo com a sociedade, seja no âmbito cultural ou político e principalmente buscando incansavelmente a integração de todo o movimento. Amplamente arejado na sua visão de instituição, não se caracterizando como federação nem associação, sem uma hierarquia de mando e engessadora, mas de constituição, completamente descentralizado, o CONUB, que não possui fins lucrativos, é uma porta aberta para quem deseja voluntariamente ajudar a construir um posicionamento participativo e interativo do movimento umbandista internamente e externamente com todos os níveis sociedade.
A FTU - Faculdade de Teologia Umbandista é o marco primordial da conquista do direito de estarmos de forma correlata na mesma posição das demais religiões e com qualidade.
Oficialmente autorizada pelo MEC, a FTU já é um centro irradiador do pensamento e da produção acadêmica científica e teológica umbandista. Polarizadora de expoentes de diversas áreas do conhecimento filosófico, científico, cultural, religioso e artístico a FTU é uma referência da Umbanda para sociedade e um belo exemplo de como podemos estar em pé de igualdade com os nossos pares. O valor desta conquista é incalculável e ainda não apreendida por todos. Os teólogos umbandistas formados pela FTU, serão reconhecidamente multiplicadores dos saberes umbandistas, contribuindo responsavelmente pelo posicionamento da Umbanda em todas as situações e níveis da sociedade.
Sim, é indelével a contribuição que organismos como o CONUB e a FTU, proporcionam ao movimento umbandista e a Umbanda. Precisamos aprender, urgentemente a olhar exemplos como estes, com a visão da valorização.
Não importa, quem fez, importa que existam iniciativas como essas, não procuremos identificar quem trabalha, e sim trabalhemos, nos solidarizemos e respeitemos a luta dos ques estão fazendo acontecer.
A Umbanda nas vésperas de completar o seu centenário, merece comemorar a nossa fé, o nosso amor, o nosso despreendimento, pela busca da valorização e do posicionamento justo na sociedade em que atuamos.
Meu saravá fraterno a todos!
Namastê!

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