A Leveza e o Peso dos Infalíveis!

- I -
ALICERCES FILOSÓFICOS E LITERÁRIOS

INTRODUÇÃO

Em 1984, o escritor tcheco, Milan Kundera escreveu seu romance mais popular, sucesso de público e de crítica, "A Insustentável Leveza do Ser". O livro é como uma grande crônica acerca da frágil natureza do destino, do amor e da liberdade humana. Mostra como uma vida é sempre um rascunho de si mesma, como nunca é vivida por inteiro e como é impossível de repetir-se. A história acontece em Praga e em Viena, em 1968, e atravessa algumas décadas. Narra os amores e os desamores de quatro pessoas: Tomas, Tereza, Sabina e Franz.
É permeada pela invasão russa à Tchecoslováquia e pelo clima de tensão política que pairava na Praga daqueles dias.
Dotado de um pano de fundo político, faceta que caracterizou essa primeira fase autoral de Kundera, não se pode deixar de perceber a presença explícita de conteúdo filosófico, bastante evidenciado na força do seu estilo narrativo.
A referência a autores da tradição filosófica como Nietzsche e Parmênides situam o enredo do romance dentro de uma perspectiva existencial, submete as situações a uma análise filosófica, á uma reflexão especulativa.
Inspirado nesse romance, nas idéias filosóficas implícitas e explícitas no enredo desse livro, que li há muito tempo atrás, é que mais uma vez, realizo um paralelo com a Umbanda, minhas experiências e vivências, que também submetem as situações à uma análise filosófica, à uma reflexão especulativa.
Falemos então, de Leveza e Peso, Amor fati, Mito do Eterno Retorno e da Teoria da Conspiração, que nada tem haver com Kundera, mas que aparecerá também nesse artigo.
Sinceramente, não esperarei que os leitores consigam entender a linha de raciocínio, as correlações e as inter-relações que realizarei aqui.
Eu mesmo reconheço a nebulosidade que envolve esse texto, logo, antecipo meus pedidos de desculpas, mas como já foi colocado, trata-se de uma digressão filosófica e de reflexões especulativas.
Para evitar os excessos de aspas identificando textos de terceiros, coloco ao final todas as referências dos excertos, que compuseram esta primeira parte, sobre Milan Kundera, o livro "A Insustentável leveza do ser", as problemáticas filosóficas existentes no romance e seus personagens.
O meu papel, nesse caso, foi ligar os pontos e construir uma seqüência lógica mínima que sirva de sustentação aos argumentos desenvolvidos na segunda parte.
Aos que não tiveram oportunidade de ler o romance, segue um breve resumo sobre os dois principais personagens da história de Kundera e dos conceitos filosóficos.

PERSONAGENS

1) Tomas

Tomas é um homem jovem, bonito e atraente para o sexo oposto, do tipo que não encontra dificuldade para aventurar-se amorosamente. Sendo um médico renomado, possui um conforto financeiro que lhe permite dedicar seu tempo para a simples fruição da própria vida. É o que faz com Sabina, por exemplo, estabelecendo com ela uma relação amorosa absolutamente informal, ainda que dotada de certa segurança. Encontram-se ocasionalmente para fazer amor, continuando com suas rotinas cotidianas logo em seguida. Tomas conduz sua vida dessa maneira até conhecer Tereza. Quando Tomas conhece Tereza, não faz amor com ela no primeiro momento, mas acaba deixando seu endereço para ela, caso ela deseje procurá-lo posteriormente. O que ele não suspeita é que ela acaba fazendo-o, de fato. E o faz da maneira mais inesperada para um homem como Tomas: ao chegar em Praga, Tereza simplesmente deixa sua bagagem no armário da estação de trem e dirige-se para a casa de Tomas, depositando sua vida na possibilidade de encontrá-lo. Tomas, depois de deixá-la entrar pela primeira vez em sua vida, nunca mais consegue livrar-se do "bebê encontrado em um cesto à beira de um rio", como ele costuma referir-se metaforicamente a ela. Muito provavelmente Tomas não desejou fazê-lo. De qualquer maneira, a entrada de Tereza na vida de Tomas representou, de fato, o fim do estilo de vida livre que Tomas possuía até então.

2) Tereza

Tereza é uma jovem mulher educada em um ambiente bizarro e repulsivo. Sua mãe, uma mulher amorosamente frustrada, fazia questão de esfregar na cara de Tereza a naturalidade da miséria humana, através da nudez, da feiúra, de sua própria flatulência e sujeira. Tereza, dotada de um espírito sensível, acabou tornando-se uma dessas pessoas que exalta a vida do espírito e da alma, em detrimento da vida carnal, que nessa perspectiva assume ares sujos e repulsivos. Trabalhando num bar cheio de bêbados e homens de mau caráter, Tereza surpreendeu-se ao ver Tomas em uma das mesas, com um livro aberto.
O livro, naquele instante, os irmanava de uma maneira sublime, pois era um sinal de refinamento e espírito em meio ao lodo no qual ela vivia. Depois de conhecê-lo, não tardou a procurá-lo em Praga, uma vez que sua própria vida não possuía nenhum sentido genuíno. Quando encontra Tomas, literal e metaforicamente deposita a responsabilidade por sua vida e por sua felicidade nas mãos de Tomas. Para tanto, lida mesmo com as infidelidades de Tomas de maneira quase estóica.

CONCEITOS FILOSÓFICOS

1) A Leveza e o Peso

A problemática da leveza e do peso possui amparo na filosofia de Parmênides.
Parmênides de Eléia (cerca de 530 a.C. - 460 a.C.), filósofo pré-socrático, situou sua problemática em torno das dualidades ontológicas do Ser. A dualidade, porém, por força de sua perspectiva unitária de Ser, surgem da presença e da ausência de uma entidade. Neste sentido, o frio é apenas a ausência de calor, o não-calor. As trevas são as ausências de luz, a não-luz.
Para Parmênides, entretanto, ao contrário do que o pensamento lógico-formal com o qual estamos habituados nos faria supor, a problemática da dualidade leveza/peso revela o peso como ausência, como não-leveza.
Kundera desloca a dualidade do peso e da leveza para uma perspectiva existencial, mesclando-a ao problema da liberdade humana em uma perspectiva próxima à problemática do existencialismo. Para Kundera, a leveza decorre de uma vida levada sob o teto da liberdade descompromissada. A leveza segue-se de um não-engajamento, um não-comprometimento com situações quaisquer, aproximando-se, nesse sentido, das idéias de Jean-Paul Sartre sobre a condição humana.
O personagem, Tomas, é a metáfora através da qual Kundera ilustra as conseqüências existenciais do comprometimento da liberdade para com uma situação qualquer - no caso, o vínculo afetivo com Tereza. A partir de então Tomas experimenta o peso do comprometimento, peso opressivo de um engajamento qualquer, uma situação qualquer.
A leveza, porém, despe a vida de seu sentido. O peso do comprometimento é uma âncora que finca a vida a uma razão de ser, qualquer, que se constrói - sob uma perspectiva existencialista, evidentemente. Sob a perspectiva da filosofia nietzscheana, porém, Tomas levava uma vida autêntica, construindo os próprios valores sob os quais conduzia sua vida.
Tereza ilustra a problemática da moralidade de escravos: incapaz de realizar um empreendimento como o de Tomas, amarra-o pela força de sua impotência, chegando ao final à admissão do fato de ter "destruído sua vida", no final do livro.
Tomás, encarnando metaforicamente a noção nietzscheana de amor fati, revela que não se arrepende de nada, remetendo à doutrina do Eterno Retorno.

2) Amor fati

Do latim em livre tradução "Amor ao Fado". Segundo Nietzsche "Amor ao Destino", em suas próprias palavras: "quero ser, algum dia apenas alguém que diz sim".
Significa a aceitação incondicional e irrestrita de tudo e de todos os fatos que acontecem na vida.

3) O Mito do Eterno Retorno

A idéia do eterno retorno é uma idéia misteriosa, e uma idéia com a qual Nietzsche muitas vezes deixou perplexos outros filósofos: pensar que tudo se repete da mesma forma como um dia o experimentamos, e que a própria repetição repete-se ad infinitum!
O que significa esse mito louco?
De um ponto de vista negativo, o mito do eterno retorno afirma que uma vida que desaparece de uma vez por todas, que não retorna, é feito uma sombra – sem peso, morta de antemão; quer tenha sido horrível, linda ou sublime, seu horror, sublimidade ou beleza não significam coisa alguma.
Em seu aspecto positivo, uma mentalidade educada sob a perspectiva de uma história cíclica, repetindo indefinidamente, dificilmente deixaria escoar no vazio a própria vida. O argumento do Eterno Retorno assume então uma face de "convite à vida", com suas alegrias e mazelas. De modo rasteiro, a idéia do Eterno Retorno convida o homem à fazer a vida valer a pena de ser vivida.

4) Teoria da Conspiração

Teoria da conspiração é uma teoria que supõe que um grupo de conspiradores está envolvido num plano e suprimiu a maior parte das provas desse mesmo plano e do seu envolvimento nele.
O plano pode ser qualquer coisa desde a manipulação de governos, economias ou sistemas legais até à ocultação de informações científicas muito importantes.

Os trechos aqui reproduzidos, foram extraídos dos seguintes links na internet:

Wikipedia - A Insustentável leveza do ser

Wikipedia - Sobre Milan_Kundera

Wikipedia - Sobre Amor fati

Salão de Chá Ana Cristina Cesar - Prateleiras

Wikipedia - Teoria da Conspiração

- II -

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA E PESO DOS INFALÍVEIS

Os conceitos apresentados na primeira parte tiveram seus alicerces surgidos na Filosofia Grega, originados com Parmênides de Eléia. Vimos uma caminhada e releitura dos mesmos, tratados nas visões de Nietzsche e Jean-Paul Sartre, trazidos pela pena de Kundera que os transcreveu de modo existencialista, focando nas relações humanas de seus personagens.
Podemos considerar que Leveza e Peso, Eterno retorno e Amor fati são conceitos ontológicos, universais e servem de entidades comparativas para o estudo de diversas situações existenciais.
No mundo religioso é fácil encontrar paralelos visíveis, como por exemplo:
a) LEVEZA = a caminhada do adepto em sua religião, sem compromissos, sem responsabilidades e comprometimentos maiores. O estado de estar religioso e não ser religioso, na acepção da palavra e na força que o seu religare com o Sagrado deveria proporcionar.
b) PESO = o adepto religioso, que assume compromissos, prima pelo comprometimento da fé e possui responsabilidades para com os saberes, os fazeres, e a prática de sua religião. Descumprir esses posicionamentos é um peso, que gera cobranças de moto-próprio, de seus superiores hierárquicos e sagrados.
c) AMOR FATI = Amor ao fado que sua fé lhe imputa. Conseqüência direta do PESO, alegria de servir de forma incondicional, para fazer valer a pena sua dedicação e existência religiosa.
Ao extremo representa a fé cega, sem autocrítica, questionamentos e contestações. Dizer sempre "Sim", com ingenuidade, humildade e respeito sempre, não importa o fato, a situação e a causa exigida.
d) ETERNO RETORNO = São as repetições 'Ad Infinitum', desses fatos, situações e causas que envolvem o adepto religioso por maiores diferenças que existam entre uns e outros. São repetitivos sim, pois volta e meia nos deparamos frente a frente com eles novamente, estejam ou não revestidos com outra roupagem, ou travestidos de outros modus operandi.
Esses padrões existenciais são, plenamente, identificáveis no mundo do movimento umbandista.
Assim como Kundera, que introduziu uma leitura diferenciada dos conceitos acima expostos em seu livro, realizo uma releitura, no intuito de demonstrar a sutileza com que as vezes esses mesmos conceitos podem surgir na práxis religiosa, principalmente na relação do umbandista com seus genitores (Pais/Mães-de-Santo).
Volta e meia escutamos histórias de filhos-de-santo, envolvidos em situações vexatórias e de humilhação produzidas por problemas com os dirigentes dos terreiros que freqüentam.
Também encontramos na instituição DEMANDA, origem e fim, para se explicar e servir de impulso para ações, reações e muitas outras coisas dentro da religião.
Peso e Leveza, Amor Fati e Eterno Retorno representam comportamentos e atitudes padronizadas de situações específicas, não originados pela Umbanda, mas sim, através das pessoas que fazem parte do movimento umbandista, os dirigentes nas suas relações com seus filhos-de-santo. Objetivo fim desses casos?
Demandar o filho-de-santo, para cobrar, punir, enquadrá-lo a uma situação desejada, fazer valer o seu poder e corrigir as distorções que podem vir a contaminar o restante do rebanho, não importando se o filho-de-santo continua ou não, a fazer parte do terreiro do dirigente.
Nesta releitura, Peso e Leveza, não funcionam como entidades opostas, como definidos por Parmênides, nem corresponde a existência ou a falta de compromissos e responsabilidades, de acordo a descrição de Kundera. Ambos os conceitos representarão o modus operandi diferenciado para uma mesma situação. Ações e reações, atitudes e comportamentos que visam ao final, alcançarem o mesmo objetivo.
Fala-se e comenta-se muito sobre a infalibilidade do Papa católico (dogma segundo o qual o Papa é infalível, não se engana em questões de fé ou de moral), que não percebemos e não conseguimos identificar comportamentos correlatos dentro do movimento umbandista.
Alguns Pais/Mães-de-Santo, muitas vezes, sem nem conhecer este dogma, criam posições similares para si próprios. Sua palavra é lei, suas atitudes, ações, reações e principalmente decisões são incontestáveis e devem ser respeitadas, seguidas e acatadas sem sombra de dúvida. O amor fati, do filho de terreiro, no seu viés de fé cega, serve de motor propulsor para criar, o que já defini em artigo nesse blog, de déspotas (Desconstruindo o despotismo na Umbanda - Parte I).
O dirigente de terreiro deixa de ser o Pastor que apacenta suas ovelhas, para assumir o papel do Feitor, que conduz na rédea curta e no chicote os escravos sob a sua guarda.
Ai, daquele filho-de-santo menos avisado que resolver, consciente ou inconscientemente, de alguma forma contestar, questionar, duvidar ou não seguir a risca a escrita como se deve. No popular? A demanda come de esmola!
Se acontecer desse filho deixar o terreiro, ele se transforma em um pária. Tal qual, o mito do eterno retorno em seu aspecto negativo, a sua vida desaparece de uma vez por todas, não retorna, é feito uma sombra – sem peso, morta de antemão; quer tenha sido a sua existência no terreiro horrível, linda ou sublime, seu horror, sublimidade ou beleza passam a não significar coisa alguma.
Mas, acontece que a vida continua e a linearidade do tempo é um fato consciencial. Ninguém é nada, apenas porque alguém deseja que isso aconteça. Por conta disso, a história não termina por aí.
O agora proscrito continua a viver a sua vida, se reposiciona, reconstrói o que partiu, quebrou e reinventa-se novamente, do zero se for necessário. O considerado nada, como fênix, ressurge das próprias cinzas e suas qualidades não reconhecidas mais, pela sua situação religiosa anterior, promovem o seu renascimento. O brilho de uma pessoa não se apaga e nem se destrói apenas por desejo de outrem, palavras mal ditas, pragas e maldições jogadas ao léu, fofocas, histórias inventadas, interpretações errôneas e mal-intencionadas. Inerente a todo mundo, essa luz continuará iluminando, mesmo quando a pessoa for condenada as trevas e a escuridão pela boca alheia.
Isso deixa os infalíveis loucos! Eles entram em desespero de causa.
"Como o nada, pode continuar brilhando, sem que tenha sido através de mim? Como ousa ele brilhar, sem que essa luz tenha surgido pelo reflexo da minha? Como o nada pode se destacar, sem que eu tenha permitido? Como pode o nada, continuar a sobreviver sem eu dar as condições para isso; respirar, sem que seja o oxigênio fornecido por mim? Como o nada, é quem agora me rejeita e não me quer mais? Já que somente eu tenho o poder de rejeitar e de transformar alguém em nada. E, o principal, como pode o nada, se juntar a outros nada e construir alguma coisa com significado, representatividade e melhor do que eu? Meu Deus, eu passei um bom tempo, dizendo para todo mundo o nada, que essa pessoa representava e ele está demonstrando que é alguma coisa. Como faço para que o seu exemplo não contamine os demais filhos-de-santo?"
Embora, jamais admitam, essas são frases e pensamentos, que aterrorizam as noites em claro ou os instantes de solidão dos infalíveis!
Nesse instante, o Peso e a Leveza surgem como manifestações para se alcançar um único objetivo, mas através de vieses diferentes. A Teoria da Conspiração também se apresenta como pano de fundo, que arremata e valida os motivos alegados pelos infalíveis.
Os infalíveis que optam pelo viés do Peso, ao contrário de respeitarem o seu compromisso e responsabilidades como dirigentes umbandistas, preferem usar o peso sim, da truculência e da violência. Seja nos atos ou palavras, na intriga, nas fofocas, no disse-me-disse e das manifestações irascíveis e explosões de impropérios, que saem de suas bocas, para que os ouvintes encaminhem ao endereço que desejam. Desqualificam seus desafetos, lhes cobrem de defeitos mentirosos, acusam-lhes de atitudes, atos e reações que eles não cometeram e assim por diante. Esses infalíveis são diretos, eles demandam os seus desafetos de forma visível e escancarada. Pensam que assim demonstram aos outros o "poder" que eles acreditam ter.
Em franca decadências, reagem com desespero a perca de filhos-de-santo e no fundo seus desejos maiores é o retorno das ovelhas desgarradas, a qualquer preço.
Totalmente descontrolados, é possível reconhecer que com esse tipo de pessoa, sabemos o que esperar de suas atitudes e embora sejam manipuladores previsíveis agem com extrema covardia.
Já, no viés da Leveza, os infalíveis têm realmente uma atitude descompromissada, uma falta de responsabilidade, mas com a verdade, que eles procuram esconder a todo custo. Seu modus operandi é sub-repitício, altamente planejado, possuindo na manga sempre várias cartadas, contanto, que ganhem sempre alguma coisa. Por mais coisas erradas que possam vir acontecerem, quando colocam suas estratégias para funcionar, elas são preparadas para que sempre, de alguma forma, exista um resultado positivo para eles.
Geralmente, são pessoas que conseguiram agregar para si uma aura de bondade, humildade, de coitadinhas, sempre vítimas do destino. Elas aparentam serem inofensivas ao primeiro contato, mas na verdade são lobos em pele de cordeiro. Como dirigentes esse tipo de infalível, construiu uma imagem perfeita, para que todos vejam a Umbanda através deles. Os filhos-de-santo passam a ter fé, quase que exclusivamente, no infalível e seus guias. É baseado nessa infalibilidade que eles conduzem a vida dos seus filhos-de-santo. Como pessoas comuns, ninguém tem mais vivência e experiência de vida do que eles. Aquilo que eles não dominam, são desqualificados e considerados como desnecessários. As suas "verdades" estão acima de todas as outras e tudo o que eles passam e sofrem, sempre é muito maior comparada com alguém que apresente processo semelhante. Seus interesses estão acima de qualquer outra coisa e sempre procuram extrair resultados para suas causas pessoais em toda oportunidade que lhe aparecer.
Baseado nessas características, o infalível da Leveza, não pode aparecer, como o do Peso. Ele procura criar escudos, uma linha de defesa que realize o trabalho sujo por ele.
Manipuladores de primeira, eles nunca se apresentam como alguém que estão sendo demandados, principalmente por pessoas, que eles mesmos transformaram em nada. Se for necessário admitir, para o sucesso do seu plano, que essa demanda inventada é para si, se cria uma história que agregue o desafeto, considerado um nada por tanto tempo, a alguém ou um grupo, que possa concretizar essa demanda por ele. O ponto-chave, no entanto é reunir um exército, uma linha-de-frente, que entre em guerra com o desafeto, sem que seja arranhada a sua imagem, que tanto tempo levou para ser construída.
Uma vez vítima, sempre vítima da ingratidão, da falta de reconhecimento etc.
Assim os infalíveis da Leveza precisam aproveitar o momento certo, a oportunidade correta de poder dizer aqueles escolhidos para bois-de-piranha, que eles estão sendo demandados por seus desafetos.
Não importa o meio utilizado para conseguir a reação das pessoas, uma visão, um sonho, uma intuição, uma premonição, uma conclusão sobre algo inexplicável que aconteceu, o importante é deixar que o Amor fati dos filhos-de-santo (aqui colocado como fé cega), faça o resto.
A imaginação fértil toma conta, o medo do Eterno Retorno, de situações similares que já aconteceram se faz presente e assim a mágica do infalível da Leveza, surte o efeito esperado.
A partir daí, o que for preciso ser feito para alimentar esse quadro, não importa o que, passa existir como motivo ou justificativa. O infalível da Leveza passa a se utilizar de todos os artifícios possíveis. Lágrimas e choros compulsivos, com ou sem explicação, tristezas súbitas, se for o caso, doenças e quadros clínicos alterados para gerar preocupação, demandar os seus próprios filhos-de-santo, ter respostas prontas e preparadas para explicar qualquer coisa que aconteça. E, principalmente, dar vazão a tudo que o seu exército produzir como fruto de suas próprias idéias, pensamentos e conclusões, motivadas ou precipitadas pela agora, grande causa de suas vidas. Até uma vela mal-queimada pode ser usada como motivo para deixar todo mundo em polvorosa.
É a verdadeira Teoria da Conspiração dentro de um terreiro de Umbanda.
O infalível da Leveza suprime a maior parte das provas de que ele mesmo é o autor, condutor, alimentador e único beneficiado de seu plano.
Sim, porque o objetivo final é matar três coelhos e não somente dois com uma cajadada só. Primeiro conseguir fazer dinheiro com os trabalhos de defesa e ataque, que os ingênuos bois-de-piranha bancarão para combater, simplesmente o que não existe, nunca existiu e nem existirá; segundo unir novamente o terreiro, ou pelo menos os principais coadjuvantes de seu funcionamento, em torno de uma causa, de um foco, de algo que tire a dispersão em coisas que não tragam retorno ao infalível e por último dar uma lição no desafeto. Não porque acredite que o então nada, possa atingi-lo através de uma demanda, mas apenas para responder a ousadia e a petulância que ele acredita estar existindo.
Arrogantes, prepotentes, ególatras, considerando-se "deuses", os infalíveis da Leveza e do Peso, são doentes da mente e do coração, “religiopatas”, que acreditam serem donos de uma religião de propriedade deles, de um culto a eles mesmos.
Alerta, irmão umbandista, não se transforme em vítima desse tipo de pessoas, nem, permita que sua fé vire brinquedo na mão de manipuladores dessa qualidade.
A Umbanda somente exige o Peso do compromisso e da responsabilidade, que somente a sua própria fé e consciência impõe a si mesmos; a Leveza de fazer toda a sua caminhada valer a pena, por seus próprios méritos e evolução espiritual. Ela gera o Amor fati, mas, com o "Sim" da fé racional e pura e não a cega e ingênua. O Eterno Retorno somente acontece, quando necessitamos resolver pendências, equilibrar situações ou resgatar débitos. Chamamos esta eternidade de Ciclo de Reencarnações e a repetição de fatos e eventos advindos do nosso Carma. Conspiração é, tão somente, uma falácia, não existe, sua teoria apenas se concretiza quando está em jogo o interesse de alguém.
Por ser insustentável a leveza e o peso dos infalíveis, CUIDADO!
O próximo NADA da lista pode ser você!

Comentários

Anônimo disse…
Hoje li seu artigo, e mais uma vez o parabenizo pela forma realista como foi colocada uma das situações lamentavelmente mais corriqueiras no cotidiano dos terreiros.
Ao discorrer meus olhos sobre o artigo, fui a cada momento me identificando mais e mais com os fatos e as associações tão bem interligadas em seu texto, entre o best seller de Milan Kundera e os ditos pais e mães de santo que mantêm a postura de senhores feudais ou seriam escravocratas?
Perfeita sua colocação ...” O agora proscrito continua a viver a sua vida, se reposiciona, reconstrói o que partiu, quebrou e reinventa-se novamente, do zero se for necessário....”
Porém lamentavelmente esse ato de reconstrução, é extremamente doloroso, e na maioria das vezes atinge os mais diversos setores da vida de uma pessoa, bem como exige uma over dose de humildade, fé e perseverança.
O suposto poder exercido por esses “pais/mães de santo” realmente transformam o médium visto por eles como um entrave aos seus propósitos de dominação , devendo portanto ser extirpado e execrado, passando a ser o foco , o alvo das demandas, não do pai ou mãe, porque estes no caso “nada fazem para prejudicar a outrem”, mas incutem em seus filhos o ódio, o desprezo por aquele que ousou se rebelar contra o domínio impugido ao grupo, devendo portanto ser castigado, os fatos são distorcidos de forma a manipular o grupo, induzindo-o a crer que o pai/mãe é apenas uma vítima da deslealdade e ingratidão do filho rebelde. Isto sem falar na célebre frase, que geralmente é proferida como golpe de misericórdia : "Você é livre para seguir seu caminho, mas saiba que um dia baterá a minha porta, e eu estarei de braços abertos para lhe receber, e lhe reerguerei, desde que você aprenda a me respeitar!”.
Em minha peregrinação na busca de me reconstruir, viajei muito, adquiri conhecimentos, conheci pessoas que realmente praticam a Umbanda com o respeito que lhe é devido, e desde que retornei a Fortaleza, uma das mais gratas surpresas que tive foi ler seu blog, suas colocações esplendorosamente corajosas, descortinando aos olhos dos mais incautos verdades das quais todo umbandista deve ter conhecimento, para não cair nas garras desses obsessores encarnados travestidos de pais e mães de santo.
Claudio Zeus disse…
É, maninho! Nem tenho muito a dizer porque o primeiro comentário colocado praticamente já diz tudo sobre o que vemos por algumas "umbandas" por aí, se bem que, pelo menos em minhas observações ao longo do tempo, pude perceber esse tipo de comportamento "feudal", muito mais nas umbandas cruzadas com nação, acreditando eu que tiveram seu início através de pessoas que "rasparam" por lá, já que dentro das nações a compreensão é de que cada grupo "é uma família" e que todos devem respeito total e irrestrito aos seus pais e mães no santé. Há inclusive alguns fatos contados por yawos (e mesmos babás) sobre alguns babalorixás que, até hoje, mantém seus filhos presos através de seus ibás-oris que, quase que em 100% dos casos, ficam na posse dos babás.
Seja como for, esteja eu errado ou certo, é sempre muito bom que encontremos pessoas que, como você, tenham a coragem de combater esse tipo de comportamento que muito mais revela o complexo de inferioridade exteriorizado em atitudes prepotentes, do que o real equilíbrio psicológico que deveriam ter TODOS OS QUE SE ARVORAM EM DIRIGENTES de quaisquer Religiões ou Seitas.
Pena que, como você mesmo diz em seu texto, vai ser difícil uma grande parte compreender o conteúdo por inteiro.
Paz em Oxalá, mano!
Claudio

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